Date a Home Magazine | Jul / Ago / Set 2014 | Page 120

Caro leitor(a),

Nesta quarta edição da crónica ‘O DoctorB explica’, decidi falar-lhe de algo que eu considero extraordi-nariamente importante para um ser humano sentir a sua casa como um lar, isto é, a psicologia da deco-ração.

Vimos na edição anterior que a casa é um local de reconstrução do nosso Ego ferido no quotidiano. Neste contexto, desde os tempos pré-históricos que o Homem marca instintivamente o seu território para criar a noção de propriedade; ao imprimir as mãos sobre superfícies rochosas de seu habitat, tomava-se como morador daquele espaço. Na verdade, as pinturas rupestres de então já trespassavam anseios, medos e a forma como o ser humano via o mundo. As nossas figuras ancestrais faziam registros icono-gráficos que lhes pareciam importantes ser lem-brados, tal qual as fotos que nós, em pleno século XXI, colocamos sobre estantes, aparadores e mesas; esses registros equivalem também a objetos que trazemos de viagens ou compramos em lojas de decoração para embelezar as nossas casas.

Parte da história da vida das pessoas está escrita na decoração do seu lar – e carrega informações, como hieróglifos a serem desvendados. A escolha de esti-los, cores, composições e peças oferece-nos pistas sobre os traços da personalidade dos moradores de

uma casa. Como bem refere o analista junguiano James Hillman (1926): “Existe relação entre os nossos hábitos e as nossas habitações, entre o interi-or das nossas vidas e o dos lugares onde vivemos”.

Uma casa, por si só, não é um lar. É um objeto arqui-tetónico inanimado, destinado ao abrigo do ser humano; somente após um processo etológico de domínio territorial esse espaço se transforma em lar propriamente dito. A decoração é, então, um ele-mento crucial nessa apropriação espacial. Decorar é, com a mediação de objetos, conferir vários sentidos a um lugar, tornando-o mais significativo que um simples abrigo; é tornar público o modo peculiar de ser de cada indivíduo; é apropriar-se do espaço, submetendo-o aos desígnios de quem o habita.

Na próxima edição falaremos mais acerca da pro-jeção do nosso inconsciente na nossa casa.

Um abraço,

Existe relação entre os nossos hábitos e as nossas habitações, entre o interior das nossas vidas e o dos lugares onde vivemos.

James Hillman

A FORÇA DO INCONSCIENTE

NA ESCOLHA DA NOSSA CASA

CRÓNICA | bpm's O Doctor B Explica

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