FINANÇAS
A FELICIDADE DO
13º
SALÁRIO
OS DIAS ESTÃO CADA VEZ mais
curtos... Há pouco falávamos sobre o início
do ano e, ao passar pela Rua Canadá, em São Paulo,
reparei que alguns bancos já estão instalando
seus enfeites de Natal. Fiquei boquiaberta!
Mais um ano indo embora e tudo numa
velocidade louca... Com isso, não há como
deixar de falar sobre alguns pontos
importantes, como os gastos das festas
de fim de ano e o recebimento do tão
esperado 13º Salário – que é uma garantia
da nossa Lei nº 4.090, de 13 de julho de 1962 e tem uma
variedade de propósitos.
Do ponto de vista econômico, o 13º Salário tem a função de aquecer a
economia no período natalino, mas muitas pessoas, embaladas pelo espírito
festivo, esquecem que, no início do ano, além de todo o endividamento
acumulado ao longo dos 365 dias anteriores, despesas como o IPVA, o IPTU,
os gastos escolares e o Imposto de Renda baterão à sua porta. Fazer uma
provisão para os gastos de início de ano pode soar repetitivo, mas mesmo sabendo que
esses gastos chegam e pesam bastante, nem sempre o décimo terceiro é guardado.
Então, nessas horas o ideal é planejar e escolher com cuidado os gastos que iremos
assumir. Nada melhor que ser racional para se equilibrar. Talvez uma viagem mais curta,
comprar apenas o necessário, segurar o cartão de crédito ou presentear somente os
filhos, já que é muito caro distribuir presentes a todos. Outro ponto: dê prioridade
aos pagamentos à vista. Você conseguirá, inclusive, descontos. Dessa forma você não
compromete seu orçamento futuro e ainda se força a economizar.
Reserve dinheiro para eventualidades e lembre-se de que a segunda parcela do
“Muitos gastam
dinheiro que ainda
não ganharam,
comprando coisas de
que não precisam, para
impressionar pessoas
de quem não gostam”
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R E V I S T A CREA-SP
décimo terceiro salário vem com desconto. Trabalhe em
cima de um orçamento mensal e outro anual. Se houver
dívidas com juros altos, dê preferência à quitação ou algum
tipo de amortização, pois as dívidas sempre têm caráter de
urgência. Por isso, se você tiver algum débito em aberto,
esse será o primeiro destino do seu décimo terceiro. Outro
exemplo: se existe um financiamento imobiliário, vale a
pena direcionar o dinheiro do décimo terceiro para
antecipar parcelas. Quanto a investir o dinheiro
em vez de pagar uma dívida, isso só faria sentido
se a taxa de juros pagos na aplicação fosse maior
do que a taxa de juros da dívida, ou seja, o valor
aplicado cresceria em velocidade maior do que o débito,
o que quase nunca acontece, não é?
A última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência
do Consumidor (PEIC), apurada pela Confederação
Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC),
mostrou que o percentual de famílias endividadas no
Brasil alcançou sua máxima em 2016, com 61,6%, e caiu
para 55,6% em janeiro de 2017. Ou seja, mesmo em época de
crise é possível evitar ou diminuir o endividamento.
Então, vamos combinar: o endividamento é um problema
que tem de ser resolvido com o próprio salário. Para isso,
recomendo redução nos gastos. Se não conseguimos reduzi-
los, é muito provável que o nosso padrão de vida não esteja
sendo respeitado. Pagar dívida com o 13º Salário é combater
o efeito do problema financeiro; com essa atitude só estaremos
mascarando o real e verdadeiro problema: a ausência de
educação financeira em toda a família.
COMO RESOLVER O PROBLEMA
Para sair do endividamento e assumir o controle das
finanças definitivamente, o melhor é reunir a família e
conversar; fazer um diagnóstico da situação financeira; anotar
todos os gastos e, juntos, descobrir para onde vai cada centavo.
Com esse retrato do orçamento, é possível identificar onde é
recomendável cortar os excessos de despesa.
Então, a próxima pergunta é a seguinte : “É possível ser feliz
com dívidas”? Essa é uma pergunta que muitos me fazem e eu
sempre respondo: “Sim, é possível”. Já perceberam que há sempre
um condicionante para a felicidade? E o dinheiro é um deles.
Fiquei pensando nisso e me lembrei de um estudo realizado
pela Universidade de Harvard sobre felicidade (Grant Study
Harvard Happiness) que levou 75 anos para ser
concluído. Começou em 1938 e desmistificou
a relação entre o dinheiro e a felicidade. A
maior descoberta desse estudo foi que bons
relacionamentos nos deixam mais felizes e mais
saudáveis, independentemente da classe social
ou econômica a que pertencemos.
Outro detalhe importante apontado no
estudo foram os três fatores de motivação
das pessoas: 1) Fazer o bem para os outros;
2) Fazer as coisas em que somos bons; 3)
Fazer o bem para nós mesmos. Nesse sentido,
percebemos o quão condicionante é atrelar a
felicidade ao ato de gastar, ao ter e ao possuir.
Temos que ser felizes sem condicionar
a felicidade à realização dos nossos anseios.
Parece frase de bar, não é mesmo? Mas é uma
grande verdade. Nossa passagem por este
mundo não pode ser baseada em ter, em viver
em busca do que não se tem, em pensar que
só depois de tudo conquistado é que seremos
felizes. Temos que encontrar contentamento no
coração por estarmos vivos; ter felicidade em
participar da vida das pessoas que nos fazem
bem, sendo intensos, independentemente de
tudo, vivendo como se fosse o último momento
nesta Terra. Muitos vêm, muitos vão... O dia
nasce e termina, tudo tem início, meio e fim...
Por isso a felicidade, nem de longe, deve ser
condicionada ao 13º Salário ou a algo
que pode terminar. ◘
A Chefe da Unidade
de Contabilidade
Janaína Macedo Calvo
é consultora nas áreas
de Contabilidade,
Finanças,
Administração e
Recursos Humanos e já
levou a centenas de pessoas do Brasil e de outros
países palestras e treinamentos mostrando que
é possível ser feliz e não pagar caro por isso.
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