Você Sugere | Luís Henrique Marques | [email protected]
O perigo
silencioso
do Burnout
Quem dá a dica da matéria é o leitor
SAÚDE Conhecida também como “esgotamento profissional”,
essa síndrome acomete sobretudo quem trabalha no
atendimento direto de pessoas. O tratamento implica uma
mudança de comportamento em favor de uma vida equilibrada
“CONHECI, aos 17 anos, uma instituição
religiosa. Proveniente de um ambiente sem
prática espiritual, fiquei deslumbrada com a
proposta evangélica que me apresentaram”,
conta Marta (nome fictício). “Deixei todos os
meus amores e projetos e... entrei de cabeça!”
Ela afirma que, por mais de duas décadas, se
dedicou com exclusividade, de forma intensa e
incansável àquela proposta. “Não tinha sábado
nem domingo, nem um sofá para me estirar
e chamar de ‘meu’.” A alegria proveniente
dos frutos daquele trabalho a levava a seguir
adiante, sem se dar conta do tempo que passava
ou “prever o que estava por vir”.
Aos 40 anos, Marta começou a sofrer com
insônia. No início, mesmo dormindo apenas
uma hora por noite, na manhã seguinte,
“ligava o motor no 220 e partia para o ataque”,
chegando a dedicar até 18 horas por dia às suas
atividades laborais. Ela reconhece que, por
outro lado, havia uma cobrança velada, uma
pressão contínua por parte da sua instituição.
Diante da primeira crise de estafa, a solução foi
tirar um mês de férias. Porém, ainda no recesso,
recebeu a notícia de que sua irmã mais nova
tinha sido diagnosticada com leucemia aguda.
Como não tinha mais os pais, Marta correu
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Cidade Nova | Março 2020
para cuidar dela. Por um ano, esteve disponível
noite e dia até o falecimento da irmã, tendo que
conviver também com o efeito psicológico que
essa perda gradual exercia sobre ela.
Foi, então, que teve uma nova crise
de estafa. Mesmo depois de oito meses de
afastamento do trabalho, ao tentar voltar à
rotina, Marta se deu conta, afinal, de que algo
estava bem errado com ela. “Cheguei ao fundo
poço”, diz. Ainda que contasse com a ajuda da
sua comunidade para superar a sensação de
desânimo e esgotamento, sentia “um mal-estar
indefinível”, agravado por vômitos constantes
e uma dor de cabeça perene.
SINTOMAS E CULTURA
ORGANIZACIONAL
Marta é um exemplo típico de quem sofre
com a Síndrome de Burnout, cada vez mais
comum entre profissionais que atuam no
cuidado e na atenção a outras pessoas, como
professores, pessoal da área de saúde, policiais,
religiosos, entre outros, e têm o próprio corpo
como instrumento principal do seu trabalho,
explica o médico psiquiatra argentino
Roberto Almada. Especialista com formação
na área da Logoterapia (fundada pelo médico