Dragões #406 Set 2020 | Page 68

68 A GEOGRAFIA DO SUCESSO Não é raro ouvir-se comentários sobre o que pode ter sido – ou não – o crescimento do número de adeptos do FC Porto e da implantação territorial do portismo nas décadas finais do século XX e no princípio do novo milénio. Tratase, normalmente, de observações que não assentam em qualquer base sólida de informação. Mas é possível conhecer com algum rigor a evolução do quadro sociodemográfico do clube entre 1977 e a atualidade, em parte graças à tese de doutoramento que um geógrafo francês dedicou ao Porto. E a evolução, como não era difícil prever, é notável. TEXTO: DIOGO FARIA REVISTA DRAGÕES SETEMBRO 2020 O vínculo muito estreito entre o FC Porto e a cidade onde foi fundado é bem evidente e está expresso no nome que o grupo de António Nicolau d’Almeida adotou em 1893. O caráter regional da instituição também tem origem nos primeiros tempos da história do clube e tem expressão máxima na criação, em 1910, da Taça José Monteiro da Costa, uma competição em que só podiam participar grupos desportivos do Norte do país, entendido como todo o território acima de Coimbra. Só que a verdade é que esse “Norte”, na prática, cingiase ao Porto, a Matosinhos e a Coimbra. Qual seria e qual viria a ser, então, a real área de influência do crónico campeão nortenho? Avançando até 1977, é possível ter uma ideia aproximada da distribuição geográfica do portismo, tendo como base os dados relativos à renumeração desse ano e olhando em particular para o local de residência dos associados. É certo que é preciso ter em conta que nem todos os adeptos azuis e brancos eram sócios do FC Porto e que a tendência para a não filiação seria maior quanto mais afastados se encontrassem esses portistas da cidade do Porto – ainda mais ontem do que hoje, assistir aos jogos ao vivo era um dos principais