Embora algo discreto , um dos mais significativos dragões existentes no Porto é o que se pode observar no brasão granítico que encima um monumento único e excecional existente no interior da igreja da Lapa : o “ altar ” erguido na capela-mor que guarda o coração do rei D . Pedro IV . Um coração que , em 1837 , passa a figurar nas armas da cidade e que até hoje palpita bem no centro do emblema do FC Porto . Com efeito , na sequência da forte relação que estabeleceu com a cidade durante o “ Cerco do Porto ”, entre julho de 1832 e agosto de 1833 , período durante o qual aqui viveu cercado e atacado pelas tropas absolutistas do seu irmão D . Miguel , e profundamente agradecido à “ Invicta ” ( título que , de resto , foi então por ele criado |
e pelo qual passou a designar o Porto ), o monarca implementou uma série de medidas em reconhecimento pelo apoio crucial que recebeu da cidade e dos seus habitantes nesse momento decisivo da guerra civil que opôs os liberais aos absolutistas , garantindo o definitivo triunfo dos primeiros e , com ele , o de um regime moderno assente numa Constituição e num parlamento . Mas , entre as muitas decisões que tomou para agradecer ao Porto , uma houve que foi profunda e especialmente simbólica e muito pessoal : o de legar o seu coração à cidade . Algo que aconteceria muito pouco tempo depois . De facto , as terríveis condições vividas durante o “ Cerco ” terão contribuído para agravar uma debilidade de saúde que D . Pedro IV já denotava antes do conflito . Durante os meses que se seguiram |
ao fim da guerra , a robustez foi piorando e o rei viria a falecer em setembro de 1834 , apenas um ano após o triunfo no Porto . Na sequência da sua morte , o corpo do antigo monarca português e primeiro imperador do Brasil foi levado para o panteão da dinastia de Bragança , no mosteiro de S . Vicente de Fora , em Lisboa , onde repousam praticamente todos os reis e rainhas de Portugal desde 1640 . Muito mais tarde , em 1972 , os seus restos mortais foram trasladados para o Brasil . Mas , logo após o seu falecimento e cumprindo a vontade que havia expresso em vida , o coração havialhe sido retirado para ser entregue ao Porto . Guardado num vaso de prata dourada , mandado produzir pela sua esposa , com duas tampas que o protegiam e permitiam a sua preservação em líquidos |
conservantes , o coração de D . Pedro foi entregue ao cuidado do seu ajudante de campo , que , quase cinco meses depois , acompanharia o seu transporte , desde Lisboa , em barco e numa urna de madeira de mogno . A chegada ao Porto , a 7 de fevereiro de 1835 , e a comovente cerimónia de entrega que então teve lugar , está representada num dos extensos relevos escultóricos do pedestal da estátua equestre do rei no centro da Praça da Liberdade . Sabe-se também que uma enorme e emocionada multidão acompanhou o percurso que levou o coração desde a Ribeira até à Igreja da Lapa – o templo que o monarca frequentara durante o Cerco do Porto e , por tal motivo , o local escolhido para acolher esta dádiva de D . Pedro . Guardado inicialmente na capelamor , e vigiado permanentemente |
76 |